segunda-feira, 30 de maio de 2011

O barco nos achou!!!

Bom dia turma

Aqui estamos, Polipat Boatyard, do lado francês da ilha de Saint Maarten.
Este foi o local escolhido para corrigir os problemas do Brava para podermos seguir rumo sul e fugir da temporada de furacões aqui no Caribe.
Como a Rafa já falou, eu já estou aqui a um longo tempo, já se vão quase 100 dias nesta ilha.
O período que estive aqui foi de intenso aprendizado, muito trabalho, angústia sem tamanho e realizações maiores ainda.
Vim para cá no início de março, logo depois do carnaval, para conferir um barco com um enorme potencial.
A 5 anos vinha buscando nosso veleiro. Buscando compulsivamente.
Após nosso retorno da Europa, no fim do ano passado, não tivemos descanso. Iniciamos a construção da nossa casa, tentando tê-la pronta para o início do verão.
Como todos que já construíram uma casa sabem, o processo é lento.
No fim de janeiro, com a casa "quase pronta" a algum tempo, eu e Rafa já estávamos exaustos da aventura que tínhamos entrado. Mas não podíamos parar. Era mais uma importante etapa dentro do nosso planejamento.
O trabalho dos dois (ela vendendo e decorando na Santa Maria Casa e eu na Primeiras Ondas, minha Escola de Surf), somado com a construção da casa estavam nos consumindo. Pouco tempo para a família, pouco tempo para os amigos, pouco tempo para nós mesmos. Menos tempo ainda para a minha compulsão. Procurar nosso Veleiro.
A 5 anos era exercício diário. Entrar na internet, acessar os principais sites de anúncio de veleiros do mundo (yachtworld.com, cruisersforum.com), ir fuçando, abrindo, lendo, aprendendo, sonhando, buscando... compulsivamente...
Já não acontecia mais assim, as visitas diárias estavam cada vez mais raras, chegou fevereiro, a casa ainda "quase", o orçamento mais no "quase" ainda, já estava ficando raro sonhar com um tempo livre, um churrasco com a turma, uma tarde com a família, uma trilha só nós dois... mesmo assim uma noite, depois da Rafa que dormia no sofá acordou e me chamou da rede para a cama, resolvi tentar mais uma vez. Não que pensasse em achar nosso Veleiro, nossa casa, nosso sonho. Só queria ver, sair, fugir, entrar em um daqueles veleiros com a Rafa e sair, viajar, viver...
Sequência padraõ, hotmail. orkut, yachtworld... nada no hotmail, nada no orkut. Penso que não posso esperar notícias se não dou noticias.
Yachtworld... Vou para o mecanismo de busca, penso no nosso orçamento, penso que não posso nem pensar em ter um Veleiro neste momento, penso na casa, escolho o tamanho padão, de todas as pesquisas pelo menos nos últimos dois anos, 40 a 46 pés, idade máxima 31 anos (1980 para cima), lembro que não posso sonhar alto, escolho uma margem de valor bem abaixo da pesquisa padrão, para ver o que tem de mais barato no mundo, já pensando em ver centenas de barcos que raramente iria perder mais que alguns segundos, os mais abandonados, os mais estranhos, os que mais precisam de trabalho... só queria sair, entrar em um deles, pensar na sequência de remendos, nos valores das peças de reposição, parar de pensar em tijolo, cimento e areia...
Página carregada, listagem na tela, primeiro é um Samson que já estava a venda a algum tempo, valor baixou de 65 para 39, não é meu estilo, o segundo é um fibrocimento, nem de grátis... o terceiro, novidade... já conhecia mais da metade dos barcos a venda, mercado parado, preços baixando, ninguém vendendo... mas este era novidade. Uma rápida olhada me fez esquecer do sono, do caminhão de areia que ia chegar na outra manhã, na Van que tinha que alugar para levar os alunos para a Lagoinha do Leste...
Projetista: Rob Perry... Tamanho: 44... armado em Cutter... Mais de 600 litros de água... 250 de Diesel... dois camarotes confortáveis... cozinha pensada para travessias... banheiro com box separado... cockpit profundo e confortável... quilha longa... skeg... muito bem ventilado... com radar.... piloto automático....velas novas...
Entrei no site do projetista (www.perryboat.com), no do estaleiro www.tashingyachts.com.tw, e gritei para a Rafinha... Lelaaaaaa.... achei nosso barco!!!
Ela já tinha me ouvido falar uma 30 vezes esta frase, mesmo assim veio ver, cambaleando de sono, também querendo voltar a sonhar.
Mandei um email para o Broker, ele me respondeu no outro dia. Mandei um email para o Dani, parceiro de velejadas daí de Floripa, da Vargem Pequena, que tinha barco na Ponta das Canas e que estava morando aqui com seu veleiro (www.veleiromema.blogspot.com) para conferir ao vivo o barco e os estragos, ele deu o aval e um mês depois cheguei aqui.
Dormi uma noite apenas na nossa casa, a Rafa ficou para terminar as obras. No avião vim pensando em como as coisas acontecem quando menos esperamos, desde que não fechemos as portas.
Cheguei no aeroporto, o broker me esperava. Fomos direto do aeroporto para o dingy, e para o Veleiro. Já o conhecia por fotos e informações técnicas que garimpei antes de vir, mas foi como reencontrar um velho amigo. Chegamos pela popa, na hora soube que era nosso barco. E na hora o barco soube que tinha me encontrado.
Levei mais um mês para dormir nele, para ter a posse, para poder começar a reforma. Neste mês a Rafa fez milagres em Floripa, terminando a casa e mandando o dinheiro para a compra. Se dividindo entre bancos, Receita Federal, lojas de materiais de construção e a construção da casa. Três dias depois que eu mudei para do barco do Dani para o nosso a Rafa chegou.
Desde então estamos arrumando, trocando, cortando, colando, lixando e trabalhando. Em alguns dias estamos até mais cansados que naqueles dias do verão passado em que estávamos construindo a nossa casa sem tempo para sonhar.
Mas hoje vemos que estávamos e estamos vivendo nossos sonhos, mesmo sem muitas vezes perceber.
Muitas vezes esquecemos do que caminhamos até chegarmos ao ponto que estamos.
Hoje sabemos que não encontramos o barco, ele nos encontrou. Ainda não encontrei ninguém que acredite que eu achei o barco na internet do Brasil. O barco já estava visado por pelo menos meia dúzia de compradores, 99% deles moradores da ilha, vizinhos de poita. Todos olhando para ele como abutres esperando, alguns chegaram a oferecer mais dinheiro para que o negócio não fechasse... Mas não, o barco por algum motivo nos escolheu, e as coisas se encaixaram perfeitamente para que o negócio acontecesse. A ex-proprietária é uma pessoa maravilhosa que estará sempre nos nossos corações. Ela ficou tão feliz quanto nós. Mesmo negando a possibilidade de fazer mais dinheiro, ela aceitou a decisão do Veleiro. It´s not about money, the Boat is yours... disse ela.
Nunca poderíamos ter sonhado com um barco mais perfeito para nós dois.
Agora estamos com ele fora da água, refazendo os estragos que sofreu no ano passado no furacão Earl, com o corpo todo coçando com o pó de fibra de vidro, ainda sonhando....
mas isto já é assunto para outro post.


Abração a todos

Mané da Brava

terça-feira, 24 de maio de 2011

Notícias de Saint Maarten

Era sete horas da manhã, mais uma noite com chuva e vento forte, era o quinto dia consecutivo que chovia e também o quinto dia tentando consertar o motor do barco. O motor do nosso veleiro é um motor de carro à diesel, diz o Mané...motor de Kombi, e graças ao curso que ele fez em Floripa de motor marítimo e também por ser curioso, finalmente estávamos colocando o "bichinho" pra funcionar. Foi aquela alegria quando ele pegou...foi feito de tudo, foram cinco dias direto trocando peças, desmontando outras e revisando todo o sistema e eu ajudando como podia, pegando ferramentas e limpando o óleo que escorria para a sentina.

Bom...deixa eu começar pelo começo: Compramos nosso veleiro!!!!! Achamos nosso veleiro em Saint Maarten, Caribe, e graças a ajuda dos amigos Dani, amigão de Ponta das Canas que mora aqui com a família num veleiro (www.veleiromema.blogspot.com), e Cameron, nosso amigo e capitão das antigas aventuras no Morning Calm, pudemos realizar nosso antigo sonho de ter um veleiro só nosso!!! Na verdade dizemos que foi o veleiro que nos encontrou e não nós que o encontramos, pois como muitos acreditam, veleiro também tem alma, e ele estava abandonado esperando um casal que tivesse coragem e determinação para colocá-lo novamente ao mar. O "Revelator" nome do veleiro que compramos, tem sua história, ele ano passado no mês de setembro, aguentou durante 12 horas um rebocador de um lado e outro veleiro do outro, no meio de um furacão com ventos de 200 Km/h, deixando alguns rombos na proa e na junção do casco com o convés. Os danos foram mais estéticos, nada abalou a estrutua, e por conta disto, o veleiro foi colocado a venda a um preço muito acessível, ou melhor dizendo, absurdamente barato. O trabalho de fibra a ser feito no veleiro está tranquilamente dentro da possibilidade do Mané fazer, e o resto é nada mais nada menos manutenção que todo e qualquer veleiro necessita antes de se aventurar pelo mar. Here we are!!! Colocando a mão na massa para deixar o nosso "Brava" nome que iremos trocar, em homenagem à sua bravura em aguentar no meio de um furacão, toneladas no peito. She is Brave!!!! O veleiro tinha que ser nosso, ele tem um vaso de manjericão (o Mané ama colocar manjericão no comida, sempre tivemos plantado na sacada do apartamento) e um pote gigante de milho de pipoca (eu amo pipoca e sempre tenho em casa ou no barco), sem falar que o veleiro tem todas as características que sempre elegemos como importantes e fundamentais quando comprássemos um. A nossa casa flutuante é realmente uma casa, maravilhosa, com tudo que uma casa tem e ainda mais...um quintal para o mundo!!

Faz um mês que cheguei em Saint Maarten, o Mané faz mais de dois meses...enquanto eu terminava a construção da nossa casa em Florianópolis, ele estava aqui trabalhando e de olho no veleiro. Nosso planejamento é terminar a reforma do Brava para mais ou menos dia 15 de junho zarparmos em direção á Curação, antes...parando nas ilhas que fazem parte do Caribe. A temporada de furacão inicia em julho e queremos estar bem longe com o nosso Brava. Estamos muito atarefados e concentrados na reforma, já fizemos a troca de 80% da instalação hidráulica, trocamos quase 90% da iluminção tradicional para as LEDS (economia de energia), reformamos o dingue que estava murcho e todo furado, consertamos o motor do dingue...um 25 hp, e o motor do veleiro, que foi até agora a parte mais trabalhosa, além de muitos projetos e compra de ferramentas e equipamentos. Se o tempo permitir, iremos tirar o Brava da água esta semana para podermos dar início no trabalho de resina, troca do estaiamento, instalação da bimini com o novo painel solar, pintura do envenenado no casco e troca de baterias. Isto são tarefas essenciais para que possamos zarpar, o resto faremos com tempo e calma. Ahhhhhhhh, compramos também uma churrasqueira portátil, essa não podia faltar! Colocamos algumas fotos do nosso veleiro que é projeto do Robert Perry, um conceituado projetista que se destaca em projetar veleiros de cruzeiro com bom desempenho e segurança. A marca do veleiro, digamos assim, é um Tatoosh 42 pés, com plataforma de popa que deixa o veleiro com 44 pés. Bom...acho que deu para dar uma idéia do que está acontecendo por aqui...

Aguardem que ainda tem muita aventura pela frente!
Abraço aos amigos!!